Fiz um movimento mínimo com a ponta dos dedos, sentindo a superfície macia sob minhas mãos. Algo limitava os movimentos dos meus pulsos e percebi que estavam presos. Porque alguém me prenderia? Passei a língua sobre os lábios, sentindo o gosto metálico de sangue. Frazi o cenho, e minha testa latejou. Não me lembrava de estar sangrando.
Soltei o ar pela boca.
Um tubo fino passava ao lado do meu corpo e parecia conectar-se à possível fissura na pele do meu braço. Agulhas intravenosas. A idéia fez com que eu me sentisse enjoada. Arfei.
As sombras no fundo do cômodo tomaram a forma de um vulto. A luz tocou seu rosto pálido e os olhos tão escuros quanto seu terno me fitaram com ira e desprezo. Seus lábios se retorceram em um sorriso torto e cruel. Estremeci ao olhar sua expressão, uma mistura impiedosa de sadismo e sede de vingança. O tubo pareceu encher-se de algo que ardeu ao percorrer minhas veias. A sensação era desconfortável, concentrava-se em certos pontos do meu corpo e intensificava-se ali. Nas pontas dos dedos, no pescoço, nos pulsos, na pele dos ombros e no peito parecia queimar. A vulnerabilidade, o medo e a frustração faziam lágrimas caírem pelo meu rosto.
O estranho sentou-se ao meu lado e, se entregando ao deleite, divertia-se com a minha dor. Em silêncio, seu dedo indicador tocou uma das minhas lágrimas. Estava difícil respirar. Era demais. A dor me retorcia nas amarras, me arruinando como uma corrente elétrica. O estranho brincava distraidamente com uma mecha do meu cabelo. Por um instante, me senti prestes a... Oh meu Deus.
Eu ia dizer 'morrer'.
- Por quê? - sussurrei.
Em resposta, o estranho apenas sorriu. Aproximou-se, a respiração em meu pescoço, contida e regular. A boca cheia e bem desenhada tocou a minha face e murmurou friamente contra ela. E sua voz, suave e tranquilamente cortou o ar, conhecida demais para que eu não pudesse me chocar. Chocante demais para que eu não pudesse reconhecer.
- Você merece. - o tom alterado da voz rouca pareceu envolver as palavras com ácido para me ferir ainda mais.
Acordei sobressaltada.
Olhei por um instante para os travesseiros tortos e os cobertores desarrumados. Meus olhos vagaram pelo quarto, passando pela estante recheada de livros, e pelo resto... Tudo normal. Fixei meu olhar na escrivaninha. Sobre ela, meu netbook laranja parecia me chamar. A sensação era estranha.
Me encolhi. Algumas lágrimas caíram pelo canto dos meus olhos e desceram até o queixo. Fui até o banheiro fazer minha higiene matinal e lavar meu rosto. Abri um pouco as cortinas e revelando céu cinzento por trás delas. Eu sabia que escrever aquilo me faria bem. Me movi mecanicamente até o computador e o liguei.
Soltei um suspiro pesado. E fiz o que sempre faço: Escrever.
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'O fogo enrijece aquilo o que não consome.' - Oscar Wilde.
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Para Bruna Galvão.
Obrigada por me deixar ler suas histórias de terror.
Espero que isso agrade você. Eu fiz com o mesmo carinho que você tem pela sua agenda da Pucca. :B
gostei desse dms. mto perfeito *.* parabéns ae.
ResponderExcluiràs vezes tenho medo do que escrevo... teenso. sempre tem essa temática meio dark. eu realmente tive esse sonho, acredita? -q. obrigada por comentar. *-*
ResponderExcluirsério que vc teve mesmo esse sonho? vc tem muito talento laiz, já virei fã ;)
ResponderExcluirtive. aconteceu do jeitinho que tá aí, só editei algumas coisas. oh, thanks. :)
ResponderExcluirVou te contar, pesadelos são do mal
ResponderExcluire descrever um é sempre algo fascinante, pois é quase como encarar um medo.
Sua descrição ficou fascinante e descreveu muito bem os sentimentos e acontecimentos criando uma atmosfera bem intensa.
Uma fic muito boa ^^
É, escrever sobre os medos é uma forma de tirar eles da cabeça, e passar esse para o papel foi um desafio.
ResponderExcluirObrigada pela leitura. :)