A noite é fria. A chuva gelada cai sobre minha pele morna, e a lembrança de seu corpo quente em meus braços é tão vívida que chego a sentir seu hálito e seus lábios deslizando sobre minha pele, sem me beijar.
Pagaria qualquer preço para sentir esse gosto novamente. A dor cresce ainda mais, gotejando como ácido em minhas veias. Minhas mãos acariciam o rosto inexpressivo por um momento. Meus dedos tocam a face bem-desenhada, os cachos bem-feitos do cabelo escuro, contornam os lábios perfeitos e quase sem cor. O mundo era puro silêncio.
– Tão... Bonito. – murmuro, tão trêmula e relutante quanto a beleza que hesitava em deixá-lo. Meus braços permanecem firmes ao redor de seu corpo, os dedos como travas em seus ombros. Ele parecia frágil como uma criança pequena.
Pressionei a boca em sua testa fria. O gosto convidativo de sua pele era quase imperceptível, e o fluxo agradável do sangue através de sua pele fina desaparecera por completo. Ele tinha gosto de vida, e eu nunca esperei menos dele, afinal, partira de minha vida exatamente como chegara à ela: sem motivos, sem razões.
Beijei a pele macia do pescoço alvo e minhas mãos o soltaram carinhosamente no chão. Agora fazia sentido, e nada importava. Eu mesma não significava nada. Tudo era pouco. Nós dois, juntos, éramos mais que o mundo.Sem ele, eu não era nada. Segurei o metal frio e molhado da arma com os dedos trêmulos, erguendo devagar, cautelosamente, na altura do peito. Manchas de um escarlate úmido e desbotado tingiam a camisa branca que se misturava à palidez de sua pele. O rosto permanecia sereno, como se ele estivesse dormindo. Mas ele jamais acordaria.
Não cogitei pensar se suportaria sua ausência. Não correria o risco de perdê-lo também. Eu prometera amá-lo na saúde, na doença, na alegria e na tristeza, na riqueza e na pobreza até que a morte nos separasse. Mas eu não deixaria isso acontecer.
Respirei fundo, sentindo o pulsar irritante e doloroso do meu coração. Segurei a arma com firmeza entre as duas mãos e apertei o gatilho.
Uma. Duas. Três vezes. Eu não queria esperar.
A arma caiu de meus dedos ensangüentados quando senti a morte invadir meu corpo com facilidade. Desabei ao lado dele, e gemi, surpresa com a dor. Minha mão direita segurava a sua, e a esquerda tentava inutilmente manter meu sangue dentro do corpo. Desisti e acariciei a palidez marmórea de suas faces. Eu também sangrava por dentro, e sentia o ar entrar por meus pulmões como navalhas minúsculas e afiadas. Sorri, sentindo que não faltava muito.
Abraçada ao seu corpo inerte, esperei para morrer.
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Inspirada em Join Me In Death - HIM.
lindo texto, laiz. gostei mesmo.
ResponderExcluirvocê escreve bem, hehe.
begs
;D
oh, obrigada. bgs :*
ResponderExcluirNossa que profundo *-*
ResponderExcluirGOD eu curti bastante, ficou profundo e cheio de emoções,
do tipo de fic que nos faz sentir como os personagens se sentem.
Deixou um arzinho misterioso e malancólico no ar que conduziu muito bem a fic até seu desfecho.
Está de parabéns *--*
Ain, obrigada, flor :)
ResponderExcluirAgradeça ao tio Shakspeare por me inspirar com Romeu e Julieta.
Este comentário foi removido pelo autor.
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